Uma parabola sobre o relacionamento humano – Davi e Michelangelo
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Há uma historinha que se conta sobre a vida do grande pintor e escultor italiano Michelangelo. Quando ele terminou de entalhar Davi, admirado com aquilo que havia criado, ordenou à estátua: “Parla! Parla”. Obviamente que a escultura permaneceu em silêncio por se tratar de algo inanimado, destituída de emoções.
Essa anedota serve para ilustrar uma face peculiar dos relacionamentos humanos. De alguma maneira, enquadramo-nos nessa parábola, seja como Davi ou como Michelângelo. Quantas vezes as pessoas com que nos relacionamos nos interpelam: “parla!”, mas nos negamos a falar daquilo que nos incomoda, de nossos sentimentos, de sonhos, medos, frustrações etc. Em suma, comportamo-nos como Davi.
Outras vezes, há pessoas que se comportam como Michelângelo: desejam fazer do outro aquilo que têm em mente. O outro não é tido como um ser inanimado, sem vontade própria, a relação se torna unilateral, imposta. O caso típico é aquele dos pais que projetam seus desejos nos filhos, sem, ao menos, conhecer suas necessidades. Em contra-partida, existem aqueles que se deixam esculpir como Davi. Aceitam ser transformados naquilo que não são. O exemplo mais comum dessa situação é o início de namoro, onde ambos parceiros estão, inicialmente, dispostos a fazerem as vontades um do outro, mesmo a contra-gosto. Contudo, à medida que o tempo passa, a negação do eu pode se transformar em frustração, desejos reprimidos, sentimentos de incompletude, depressão etc.
Privar o outro da palavra é privá-lo daquilo que o torna essencialmente humano. Não podemos ser Davi. De fato, não somos uma escultura de mármore. Dentro de nós existe um coração pulsante que irradia sentimentos. Precisamos falar de nossas necessidades, com sinceridade, em nossos relacionamentos, seja de que ordem eles forem (afetivos, profissionais, conjugais, fraternos etc.), pois não existe relacionamento saudável sem diálogo. Devemos enxergar o outro como pessoa e não simplesmente como escultura fabricada segundo nossos moldes. Aliás, existe um significado muito bonito na etimologia da palavra “pessoa”: o termo chegou a nós através do latim persona, literalmente, “soar através de”; em outros termos, a inter-comunicação é esse elemento distintivo do ser humano. Em uma relação dialógica, temos que ter consciência que ambos interlocutores se formam mutuamente, tal qual o artista esculpe sua obra e, ao mesmo tempo, a obra forma o artista.
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