Desumanizante
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A cultura é o que nos torna humanos e nos diferencia dos animais. Tomemos, por exemplo, a Antigüidade Greco-romana, aquele que não partilhasse dos valores culturais dessas civilizações eram tidos como bárbaros (em referência à inarticulação do canto dos pássaros oposto à significação da linguagem humana), inferiores, não-humanos. Assim, a cultura pode ser também um elemento “desumanizante”, em outros termos, etnocêntrico, opressor.
Esse pensamento não se restringiu ao passado remotíssimo, mas perdurou, e ainda perdura, durante toda a história da humanidade. Para citarmos alguns outros exemplos, destaco o tratamento que na época do Renascimento e dos “descobrimentos” (séc. XIV a XVIII), se prestava às culturas recém encontradas pelos europeus. Perguntava-se: aqueles que acabaram de ser descobertos pertencem à humanidade? O selvagem tem alma? E o questionamento se dava em via dupla, os indígenas também se interrogavam se os europeus eram humanos
Quais eram os argumentos contra a “humanidade” dos indígenas?
Diziam que eles eram sem religião, de aparência física feia. Também se falava da nudez ou das vestimentas feitas de pele de animais, dos hábitos alimentares como o fato de comer carne crua e os ritos canibalísticos e, obviamente, o fato de falarm uma língua initeligível aos europeus.
Também ao negro africano, em especial da África profunda, onde a civilização européia nessa época ainda não havia penetrado, era negado o direito à humanidade. Rousseau chega a afirmar que eles são a forma mais nitidamente inferior entre todas nessa infra-humanidade, ou seja, entre o índio e o africano, este ainda era considerado mais deplorável.
Ainda temos exemplos mais recentes de etnocentrismo. No século XIX, o progresso científico era o parâmetro para se atingir o status verdadeiramente humano, aqueles que não o tinham alcançado eram chamados de primitivos. Também a idéia de uma raça superior, a ariana, foi o critério para a “desumanização” de judeus, ciganos, deficientes mentais e físicos, durante o regime nazi-facista (inclusive apoiado em pesquisas genéticas e de eugenia). Mais recentemente, vimos as empreitadas estado-unidense de George W. Bush e sua invasão ao Iraque, com a desculpa de levar a civilização (entenda-se capitalismo) àquele país. Também se nega o status de humanidade ao embrião e ao feto. Os deficientes físicos e mais ainda os mentais, são tidos como seres inferiores por alguns regimes e até mesmo por políticas públicas que os segregam.
Existe um grande perigo nesse “lado negro” da cultura. Quando consideramos o outro menos humano, é, em geral, a fim de legitimar uma forma, velada ou não, de violência ou mesmo de destruição. A pessoa é vista como mero instrumento para se alcançar determinado objetivo, em geral, relacionado ao lucro.
Existe também esforços de convencimento das massas. Esse convencimento passa por práticas tanto discursivas como não-discursivas (gestos, símbolos, idéias, propagandas…), cria-se um verdadeiro aparato cultural negativo, reproduzido, inclusive, por meio das mais diversas formas de aprendizagem, seja institucionalizadas ou não. Assim, é possível entender porque vemos populações inteiras apoiarem gestos de violência contra a mulher, contra os negros, os pobre, as crianças etc.
As justificativas podem ser as mais diversas, como banais para classificar o outro como subumano: o sexo, raça, a religião, o grau de civilização, a língua, o nível social etc.
A humanidade como um todo já sofreu demais por conta do preconceito em todas suas formas. Privar o outro de uma identidade humana igual a minha. É privar-lhe o direito mais básico de todos: a vida. Quando eu trato um semelhante como inferior ou mesmo com animalesco, estou desprezando a possibilidade da aprender com ele novas possibilidade. A capacidade em respeitar as diferenças e saber lidar com elas será o grande desafio que nossa civilização globalizada terá que enfrentar nos próximos anos.
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