Despaisamento: Argel, uma cidade em constante evolucao

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Argel, uma cidade em constante evolução

Argel, capital da Argélia, situa-se no extremo norte do país. Localizada na margem Oeste da Baía de Argel, esta cidade desde cedo despertou o interesse de muitos povos; desde os fenícios aos franceses, passando pelos romanos e otomanos.

Até ao século X a cidade terá tido um papel meramente mercantil. Fundada pelos Fenícios em 814 a.C. sob o desígnio de Ikosim, a sua baía era utilizada como porto de trocas comerciais. Do período da sua fundação até 944, o aspecto de maior relevância terá sido a concessão do Direito Latim, pelo imperador Vespasiano, no século I, altura em que a cidade estava já anexada ao império romano.
A fundação da cidade propriamente dita ocorrerá em 944 pelas mãos de Bulggin Ibn Zir, que a expande, fortifica e nomeia de El- Djazair (numa referencia às quatro ilhas que fazem frente à costa). Em 960 a cidade torna-se capital de Argélia.

Do século X ao século XV a cidade foi dominada por várias civilizações e, em 1302, as trocas comerciais entre Argel e Espanha intensificaram-se. A importância de Argel no contexto comercial da época era, claramente, fundamental nesta altura e a prova disso era a constante disputa entre as várias civilizações que almejavam o seu domínio. Neste período de conflitos que vai do século XVI ao século XIX, apesar das possível destruição de algumas áreas da cidade, há uma crescente evolução da parte baixa da cidade, com a construção de habitações luxuosas, que mais tarde de transforma em bairro de negócios ou administrativo.

É também neste período que os países europeus fecham os seus portos a Argel, levando a que os seus habitantes se voltem para a pirataria; a tal ponto que, em 1816, (depois das inúmeras tentativas europeias para travar este fenómeno se terem revelado inúteis), a cidade é bombardeada por navios britânicos e holandeses, destruindo a frota dos corsários.

Em 1830 a cidade é conquistada pelos franceses, que num curto espaço de tempo a transformarão profundamente: demolição da muralha da cidade e consequente abertura de “boulevards” de estilo europeu, em subsituação de ruas e becos. Já no século XX assiste-se à destruição de uma parte considerável da Kasbah que servia de elemento de ligação e continuidade entre esta e o mar.

Em 1962, Argélia consegue a sua independência, com Argel como capital. Esta independência, tal como os inúmeros acontecimentos ao longo da sua história levaram a sucessivas alterações dos seus extractos, serviu também como elemento impulsionador de novas transformações.

Ainda que todas estas transformações tenham contribuído para conferir algumas dissonâncias à caracterização da cidade de Argel, a sua tipologia corresponde claramente a uma tipologia de cidade islâmica; alguns dos seus códigos estão ainda presentes e bem perceptíveis, mesmo que em alguns casos pareçam ter-se diluído no tempo.

Os limites do espaço que conformaria a Kasbah estão ainda ao alcance da sua identificação: localizada junto ao porto, na parte Nordeste da cidade, estende-se para Sul até ao “boulevard Ourida Meddad, e para oeste até ao “Boulevard Abderazak-hadad e “Boulevard de la Victoire”.

O seu tecido denso e sinuoso destaca-se da envolvente metropolitana do século XX.

A Kasbah de Argel era constituída por 3 zonas essenciais:

• Zona portuária;
• Cidade alta;
• Cidade baixa.

A Zona portuária de Argel é uma das zonas mais importantes da cidade, não só pelo seu carácter mercantil, mas também por ser o ponto fundamental de crescimento da cidade; a partir desta zona mercantil, a cidade foi-se alastrando até à dita cidade baixa.
Este local tem uma relevante importância, não só pelo seu carácter comercial, mas também pelo seu carácter industrial; uma das principais industrias das cidades islâmicas são as tinturarias e os curtumes, localizados, normalmente, em locais adjacentes a um ponto de água, neste caso o mar, devido aos cheiros intensos e para possibilitar escoamento de detritos.

De pouco se falará das características islâmicas implícitas nesta zona, uma vez que, devido às invasões francesas, toda a área foi arrasada, não restando nenhuma referência do que seria a sua anterior constituição. É neste local onde o contraste entre a cidade nova e a cidade antiga é mais evidente. Devido ao declive presente na Kasbah, existia uma continuidade acentuada entre a cidade alta e a cidade portuária, ou seja, toda a cidade estava ligada ao mar, contudo, com o arrasamento da invasão francesa, esta ligação ficou desfeita. Foram arrasados também equipamentos civis e religiosos, assim como os subúrbios “extra moenia” (extra-muros), toda a periferia e ainda os baluartes da conquista espanhola (prevalecem, contudo, algumas referencias a essa muralha).

A cidade baixa, delimitada pelas ruas Amar Ali e Abderrahmane Arbadji, constituída por aglomerados de maior dimensão, foi inicialmente ocupada por pessoas de poder, com habitações luxuosas, sendo também um bairro de negócios e administrativo.

Pela constituição da cidade baixa e pela forma das ruas Amar Ali e Abderrahmane Arbadji, que subdividem a Kasbah, acredita-se que a cidade teve o seu limite nesse eixo, e só posteriormente se desenvolveu, com o surgimento da Cidade alta. Nesta cidade baixa, somos contemplados pelo mercado Random e pela mesquita Ketchaoua, (aquando da conquista francesa foi convertida em Igreja, mas com a independência voltou a ser Mesquita) tratando-se do lugar de culto mais importante da cidade.

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Como já foi referido, é na Cidade baixa que se encontram aglomerados maiores, portanto, a necessidade de utilização do espaço superior da via (Sabat) é quase inexistente. Uma vez analisada a parte baixa como um conjunto da Kasbah, verifica-se que as ruas surgem, muitas vezes, de alinhamentos de ruas recentes da nova construção da cidade portuária. Estas ruas, embora, e ainda, com características islâmicas, são ruas muito mais ortogonais e paralelas entre si. Contudo, e apesar desta peculiar característica, o carácter semi-privado e privado de algumas ruas mantém-se, isto é, adjacentes a estas ruas principais, surgem ruas sinuosas, que levam os habitantes às suas casas (Derb), como se verifica, principalmente, na zona norte da Cidade baixa, onde o carácter habitacional é mais constante e o aglomerado de habitações é mais densificado. É também neste espaço onde, uma vez mais, contemplamos a cidade islâmica no seu auge, uma vez que varias características estão explícitas, como o não confronto das portas das casas habitacionais, isto é, as portas nunca se encontram frente a frente, respeitando a privacidade dos vizinhos, tal como acontece com as aberturas mínimas no exterior das fachadas das casas.

Outro aspecto bastante interessante é o facto de o Derb se bifurcar, subdividindo-se em “dois ou mais Derbs”; o próprio Derb, em muitos casos, leva a novos Derbs para casas habitacionais que se encontram em lados opostos.

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Author: Joaquim Carvalho

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